ela ainda está lá
inerte junto às paredes que a sustentam
imóvel sem o vento
sem cor, sem flor pra enfeitar
mas, ela ainda está lá
e sobrevive às estações como sobrevive o tempo
e sobrevive ao tempo sem cuidado
sobrevive às mudanças sem trato
os olhares que se dirigem a ela são poucos
são rápidos, são ocos
é vazia aquela vida descompassada
é vazio aquele espaço sem amigos
mas, ela continua
e se ergue sempre
e sobrevive
e não se cansa de tentar existir
mesmo sem o movimento que a carregava
mesmo sem as mãos que a deram vida
mesmo sem os cuidados e sem as admirações
os corredores não mais existem
não depois que todas as vozes se calaram
ela está sempre lá
e permanecerá
até que não mais existam paredes
até que estas sejam derrubadas
até que com milhões de anos ela não mais se aguente

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