hoje olhei um quadro que tenho, no meu quarto, de mim aos 3 anos mais ou menos. eu quis tacar ele longe. toda aquela fofura ali retratada se tornou esse ser que hoje se afunda em raiva e lágrimas.

sabe, antes que eu nascesse um senhor me perguntou o que eu queria ser: homem ou mulher. eu escolhi ser mulher. daí ele me perguntou com quem eu queria casar: homem ou mulher. e eu escolhi mulher. talvez por ser a única palavra que eu conhecesse já nessa época, mas assim escolhi e aqui estou. soubesse eu, naquele minuto anterior ao meu nascimento, que essa simples palavra poderia me dar todo o trabalho e a dor que estou tendo agora, eu com certeza teria dito homem. ao menos a uma das perguntas. e quem dera realmente tivesse sido assim.

depois de nascer eu já não escolhi mais nada. por muito tempo não escolhi nem a roupa que eu ia vestir. na casa que eu moro nao escolhi nem a cor da parede do meu proprio quarto. não escolhi quantos anos minha mãe viveria ao meu lado. não escolhi por quem eu me iria apaixonar. não escolhi com que parte da familia iria morar. não escolhi as escolas onde ia estudar e mal escolhi os amigos que eu ia ter. tanto que nenhum dos que já passaram continuaram.

ser mulher é complicado. você é homem? não vai me entender. ser mulher é muito complicado. homossexual entao, nem te falo.

contas a pagar, sonhos pra sonhar, tentar manter o nível de vida que a família sonhou pra você é impossivel. e sou e pra sempre serei a rebelde. o desastre. a intrusa.

pois pra mim chega.

tá, chegar chega, mas pra onde posso ir? o que posso fazer?

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