Homenagem Póstuma - UFRJ - 2013

Minha mãe trabalhou por alguns anos na Embratel. Não sei pq cargas d'água ela tinha um livro do Baudelaire, As flores do mal, numa versão em Francês e Português. Ela tinha um dicionário de Latim todo escrito com várias palavras que em algum momento foram pesquisadas por ela e, quem sabe, muito importantes. Ela tinha tabém umas fichas de alemão, daquele tipo que Miss usa pra aprender as coisas "relevantes" antes dos concursos de beleza. Não que minha mãe tenha sido Miss, ao menos eu acho que não. Eu, particularmente não lembro da minha mãe, lembro do que me falam, do que minha família me conta. Mas, isso não vem ao caso. Minha mãe veio a falecer em 2009 depois de anos acamada por uma doença que tomou conta dela desde que ela tinha 33 anos de idade. Doeu, mas passou. Tenho certeza que ela está melhor agora. E eu falo tudo isso porque eu tenho certeza que as escolhas dela, o passado dela, em algum nível inconsciente, me levaram a vir pra Letras UFRJ. (Já permanecer na Letras quem leva o mérito são minha madrinha e minha tia. =D)

Pois vejam, quando nascemos não somos ninguém. Dependemos daqueles que nos criam pra moldar a nossa consciência, para maturar o nosso caráter e milhões de outras coisas que formam uma pessoa. Durante a nossa adolescência criamos outros vínculos e adoramos ídolos. Essa adoração, o primeiro amor de todo adolescente, também nos ajuda a crescer como pessoas. Já na vida adulta a nossa adoração se torna um pouco mais real, paupável, digamos assim. Escolhemos namorados e namoradas, maridos e esposas, temos filhos, melhores amigos. Mãe, pai, ídolos, namorados e namoradas, maridos e esposas, filhos, amigos... Quando perdemos uma dessas pessoas, um desses elos pessoais que nos moldaram, é quando tudo parece perdido. Não se sabe mais o que fazer, não se sabe mais pra onde correr. Os amigos não são suficiente, a família não é suficiente, um novo amor não é nada. Mas a gente supera, a gente celebra a memória daqueles que amamos e daqueles que idolatramos. Seja através da música de rock que ele escreveu e que formou a nossa adolescência, seja pelas anotações que mantivemos das maravilhosas aulas de linguística que assistimos, ou pelo livro mesmo que ele escreveu, ou em levar seu trabalho adiante. A gente celebra em não esquecer aquele amor, os dias maravilhosos daquele casamento, as escolhas que fizemos juntos. A gente celebra em seguir fazendo um pouco de tudo que aquela pessoinha gostaria que fizéssemos de bom pro mundo, pra nossa vida. Praquela vida que seria nossa. Que teria sido. A gente segue em frente porque sabe que onde quer que eles estejam estão beeeem melhor do que estamos aqui. E a gente segue em frente, mais ainda, por saber que num futuro próximo a gente vai se ver de novo. No céu, na próxima vida? Depende do que cada um acredita. Eu, sinceramente não sei pra que lado eu vou, mas tenho certeza que boa companhia não vai faltar. O ciclo da vida não deixa faltar nada disso. 

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