Beijo Num Beijo - versão 2020 - Parte 1
Numa quarta-feira bem cinzenta, caia uma chuva torrencial no Rio de Janeiro, daquelas com trovões, raios e rios. Sim, rios. As chuvas que caem na cidade trazem desespero. Mas, para Grazi e Milena aquele dia seria só o começo de uma longa história. Elas estavam no alto dos andares de seus prédios na zona sul da cidade. Essa chuva não as afetava. Não dessa vez. Seus problemas seriam outros, veja bem….
Graziela, ou Grazi, como era conhecida, tinha 22 anos quando trombou com Milena pela primeira vez. Cursava o último ano do curso de Educação Física e se encontrava no 4o andar do prédio principal da Faculdade pronta para tirar algumas fotocópias, neste dia. Grazi era um moça ansiosa e agitada que morava com os avós em um apartamento pequeno na Urca. Milena, tinha 25 anos, já havia trancado a matrícula do curso de Direito duas outras vezes - quando viajou para Milão e Índia - e estava a caminho de trancar pela terceira vez, pois viajaria com o namorado para Paris em 1 semana, e por isso se dirigia a passos largos para a gráfica do quarto andar.. Milena era pura tranquilidade, era difícil conseguir tirá-la do sério, mas quando conseguiam ela virava um monstro. Os pais dela, com quem ela morava, sabiam muito bem disso e por isso a deixavam em paz na maioria do tempo.
As duas muito apressadas entraram correndo na fila da gráfica e se esbarraram com muita violência. Milena quase deixou cair os papéis que estavam em suas mãos e, Grazi, se abaixou instantaneamente para pegar os papéis que haviam voado da sua. Quando Grazi se levantou as duas se entreolharam fixamente e quando deram por si estavam no meio de uma discussão incansável e incessante. Faíscas saíam das palavras ditas pelas garotas, elas falavam com voz firme, em tom de repreensão. Nenhuma das duas ousou usar de palavras chulas, nenhum palavrão, nenhum xingamento. Era como uma briga entre duas rainhas: acalorada, mas em total respeito. As pessoas que passavam olhavam incrédulas e incomodadas. Cinco, seis, sete, oito, nove, dez minutos de discussão e não parecia que elas iriam parar. Onze, doze, treze minutos e, de repente, como se um vácuo tivesse contido o som, as palavras pareceram se esgotar e sem a intromissão de ninguém elas pararam. Se olharam com ódio e seguiram, cada uma, o seu rumo. Ninguém entendeu o que houve, mas no fundo dos olhos das duas se instaurava um estranhamento, uma dúvida, uma procura por respostas a perguntas nunca dantes feitas.
Comentários