16.8.07 - mais um
Havíamos sido criadas uma para a outra, mas o retrato idealizado de um relacionamento - que eu havia criado - transformara tudo numa bola de neve e de repente todas as pequenas coisas se tornavam discussões incessantes. A falta de pedidos de desculpas de ambos os lados era ensurdecedor. O retrato psicológico de um relacionamento, que eu criara, que eu idealizara, havia feito com que todas as coisas fossem ruins. Nenhuma atitude servia e a culpa sempre recaía sobre mim. Eu não havia aprendido a ser forte. Ainda nem sei dizer se aprendi. Éramos, inevitavelmente, duas sonhadoras e duas sofredoras - sem nem saber o que era sofrer de verdade. Sem ter certeza de nada. Não províamos para uma casa nossa. Trabalhávamos apenas porque era o que deveria ser feito. Não tomávamos conta de ninguém, não tínhamos filhos. Minto, ela tomava conta da mãe, sempre que conseguia. Tínhamos nossas lutas independentes e nossas lutas internas se contrapondo. Era um massacre ver e ouvir o que eu tinha pra dizer. Eu sempre digo muita coisa. Era um massacre saber que ela nunca faria aquilo que eu sugerira. O amor, indubitavelmente, transladava à nossa volta. Era estranho e perfeito. Tínhamos sonhos parecidos, vontades parecidas e gostos muito diferentes. O sexo também era estranho. Ela me tirava de órbita, perto ou longe, era só pensar. E havia tantas outras no mesmo lugar. Tanto para mim quanto para ela, um relacionamento fixo estava fora de questão, mas parecia tão certo a olhos alheios. De qualquer pessoa pra qual eu contava sobre ela, eu ouvia a pergunta sobre se havíamos voltado, e não era sempre a resposta. Foram meses e meses e meses de sofrimento. Digo do meu, porque não sei do dela. Ela era libertina, eu era careta, ela era ‘promíscua’, eu o desejava ser. Mesmos nomes, pessoas totalmente diferentes. Na minha idealização, isso era o que nos tornava perfeitas. Não é que eu não mais pense que somos muito boas uma pra outra, mas é que situações e situações acontecem e nos afastam. É como um complô. Talvez seja meu mundo Hollywoodiano querendo me fazer enxergar beleza onde não tem. Talvez seja o mesmo mundo criando complôs aleatórios. Talvez seja mesmo o mundo. O amor nunca esteve fora de questão e acho que é o que nos carrega. Se ela é tão verdadeira comigo como sou com ela, nos amamos da forma mais pura que há. Aquela que sustenta um casamento. O que no caso, não tínhamos também. Foi ontem que decidi lhe dar espaço mais uma vez. Quando terminamos, em janeiro, ela me disse que eu a sufocava e ao perceber que agia do mesmo modo de antes, sem nem estarmos de novo em um relacionamento, resolvi lhe devolver seu espaço. O que me mata é perceber que ela pega todo o espaço que dou e cria mais espaço em volta. Ser uma pessoa analítica me mata. Não quero que achem que quero sua compaixão. Tudo o que mais quero entender esse nosso “relacionamento”, por assim dizer. Tanto amor e dasamor convivendo, tantas brigas, tanta coisa. Talvez não deva ser e talvez seja tudo isso o que vá fazer com que uma – suposta – futura união seja tão boa. Não dou meu braço a torcer quando sei que estou certa. Faz tempo que não venho aqui. Tudo bem com vocês? Eu trabalho e estudo e me vicio em jogos de carta no computador. Comprei um PS2, vocês estão convidados a vir jogar comigo. Quando quiserem, é só ligar. Quanto a ela? Não sei. Não liguei hoje pra saber se havia chegado bem em casa, do trabalho. E ela não me ligou pra dizer – apesar dos meus tantos pedidos. Mas, lhe dei espaço, certo? Voltemos à vida adulta. Voltemos a não ter ninguém e não pensar ou desejá-la. Há tantas outras por aí. Faço das coisas mais fáceis as mais difíceis por simplesmente gostar de sofrer. São quase duas da manhã agora...é normal eu não lembrar de ter escrito algumas frases, certo? Não se preocupem. Sei que usei tempos verbais que não se completam pelo texto. Era pra ser como no início, tomou outra forma... tá bom assim. Tchau.
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