2007
Zélia,

tem tanta coisa que eu queria te dizer e não posso. tantas perguntas foram deixadas por fazer, perguntas às quais eu nunca terei resposta. ter você por tão pouco tempo foi inútil, como se não tivesse tido. espero aqui, sozinha, por um abraço seu. tem tantas coisas que eu queria escrever pra você e muitas outras as quais ainda serão escritas. mas, não muito o que dizer. se eu não falo da dor, não há mais o que ser dito. e dói tanto, tanto. um dia como hoje eu podia estar com você - e só com você. e não sozinha e abandonada na cidade. a família parece já entender o quanto dói. mas, o que dói mesmo é estar perto de você, e é o que evito. por isso hoje não fui te ver. e por um tempo não irei. nossos aniversários estão chegando. mais um que você não vai me ver completar e mais um que não fará diferença se você completar. ver você assim me parte o coração. e eu queria que a medicina - ou o tempo - andasse mais rápido. na verdade, eu gostaria que a dor não existisse. gostaria de conhecer o método no qual se extrai a dor, tranformando-a em qualquer outra coisa. gostaria muito mais que você estivesse aqui e que esse dia pudesse ser, por uma vez apenas, coberto de sorrisos e não de lágrimas. na verdade gostaria que você não estivesse aqui, dada a sua situação, particularmente, se é pra ir, que vá logo. escrevo tudo o que não gostaria de dizer junto com o que amaria que você ouvisse, pois já que você não vai ler, que alguém o faça e retire disso algo de proveitoso, se existe. gostaria de não te amar tanto. ora, mas se mal sei quem você é! gostaria apenas de dizer que te amo. muito. e que sinto saudade do que não tivemos, do que não vivemos, do que não sorrimos, do que não choramos, do que não brigamos, do que não festejamos, de quando não estivemos juntas. aguentei quase o dia inteiro sem derramar uma lágrima por você hoje, mas não sou forte o bastante para conseguir passar pelo mesmo, inteiramente, sem deixar que uma caísse. não pensar em você é impossível. eu sou você. eu vim de você. eu sou, quase que inteiramente, você. se você puder voltar, volta. se você tiver que ir, vá. mas, que seja logo. porque é sempre muito difícil aguentar. é difícil deixar o coração inteiro num dia como esse, mas estou aprendendo. é difícil não pensar em você, mãe. é difícil não te conhecer. é difícil não chorar. é difícil ir dormir. é difícil não saber qual o seu cheiro, como é a sua voz. é difícil nem saber se você me entenderia como sou ou se simplesmente aceitaria. é difícil só ouvir o que falam, sempre, de você. difícil criar uma imagem que não seja perfeita. difícil acreditar que logo você me foi tirada. difícil não querer xingar ou bater no responsável por isso. o governo deveria proibir que pessoas com problemas procriassem. eu não existiria. nem você. difícil deixar a raiva não se expor. difícil acreditar nesta vida como ela é. que fique exposta aqui a minha raiva por tudo isto. que fique exposto aqui o meu amor e a minha saudade pelo que não tivemos. um beijo e boa noite. feliz dia das mães.

tem tanta coisa que eu queria te dizer e não posso. tantas perguntas foram deixadas por fazer, perguntas às quais eu nunca terei resposta. ter você por tão pouco tempo foi inútil, como se não tivesse tido. espero aqui, sozinha, por um abraço seu. tem tantas coisas que eu queria escrever pra você e muitas outras as quais ainda serão escritas. mas, não muito o que dizer. se eu não falo da dor, não há mais o que ser dito. e dói tanto, tanto. um dia como hoje eu podia estar com você - e só com você. e não sozinha e abandonada na cidade. a família parece já entender o quanto dói. mas, o que dói mesmo é estar perto de você, e é o que evito. por isso hoje não fui te ver. e por um tempo não irei. nossos aniversários estão chegando. mais um que você não vai me ver completar e mais um que não fará diferença se você completar. ver você assim me parte o coração. e eu queria que a medicina - ou o tempo - andasse mais rápido. na verdade, eu gostaria que a dor não existisse. gostaria de conhecer o método no qual se extrai a dor, tranformando-a em qualquer outra coisa. gostaria muito mais que você estivesse aqui e que esse dia pudesse ser, por uma vez apenas, coberto de sorrisos e não de lágrimas. na verdade gostaria que você não estivesse aqui, dada a sua situação, particularmente, se é pra ir, que vá logo. escrevo tudo o que não gostaria de dizer junto com o que amaria que você ouvisse, pois já que você não vai ler, que alguém o faça e retire disso algo de proveitoso, se existe. gostaria de não te amar tanto. ora, mas se mal sei quem você é! gostaria apenas de dizer que te amo. muito. e que sinto saudade do que não tivemos, do que não vivemos, do que não sorrimos, do que não choramos, do que não brigamos, do que não festejamos, de quando não estivemos juntas. aguentei quase o dia inteiro sem derramar uma lágrima por você hoje, mas não sou forte o bastante para conseguir passar pelo mesmo, inteiramente, sem deixar que uma caísse. não pensar em você é impossível. eu sou você. eu vim de você. eu sou, quase que inteiramente, você. se você puder voltar, volta. se você tiver que ir, vá. mas, que seja logo. porque é sempre muito difícil aguentar. é difícil deixar o coração inteiro num dia como esse, mas estou aprendendo. é difícil não pensar em você, mãe. é difícil não te conhecer. é difícil não chorar. é difícil ir dormir. é difícil não saber qual o seu cheiro, como é a sua voz. é difícil nem saber se você me entenderia como sou ou se simplesmente aceitaria. é difícil só ouvir o que falam, sempre, de você. difícil criar uma imagem que não seja perfeita. difícil acreditar que logo você me foi tirada. difícil não querer xingar ou bater no responsável por isso. o governo deveria proibir que pessoas com problemas procriassem. eu não existiria. nem você. difícil deixar a raiva não se expor. difícil acreditar nesta vida como ela é. que fique exposta aqui a minha raiva por tudo isto. que fique exposto aqui o meu amor e a minha saudade pelo que não tivemos. um beijo e boa noite. feliz dia das mães.
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