2007 - Fato consumado



Há tempos atrás, eu quis saber escrever canções, escrever canções só pra você. Eu quis saber o que você sentia pra poder colocar em minhas canções. Eu quis fazer minhas canções só pra você, eu quis fazer minhas canções sobre o amor, e sem você saber escrevi uns versos e os enviei a esmo, esperando que eles encontrassem você. Muito tempo passado eu, caminhando, ouvi pela porta de algum lugar um violão soar uma bonita melodia. Era um bar e eu entrei para ver e ouvir quem tocava e o que tocava. O piano que agora soava ao fundo anunciava uma canção romântica. Quem a cantaria havia apenas deixado o palco. O violão parara, então. Resolvi não mais continuar ali e saí, não tendo demorado nem um minuto no lugar. Percorri de volta o longo corredor que me levara lá dentro e no meio do percursso senti de volta a vibração das cordas. A voz iniciara a cantar e a reconheci. Era você. E cantava meus versos. Corri de volta em direção ao bar e ao palco onde te vi ao centro, na luz e onde se sentava em um banco. Sua voz, suave e grave, cantava com fervor meus breves versos. O piano preenchia o vazio das palavras que ainda faltavam a ele. Você não me viu, seus olhos não encontraram os meus. Sentei-me distante do palco e observei você e seu violão, e o piano. As palavras que se repetiam. A leveza dos meus versos na sua voz. Lindo. Ao final do show me levantei e me preparei para deixar o lugar e foi quando ouvi uma voz me chamar. A pessoa que me chamara me conduzia, então, a seu camarim. Sem nada dizer, nem eu, nem ela. Meu coração apertado. Eu não sabia que você me havia visto, nem imaginava o que poderia querer comigo pois tinha a certeza de que você não sabia que os versos que cantara eram meus.
Você tinha um sorriso estampado no rosto, uma felicidade que eu jamais vira. Sem mais, nem menos, disse que eu deveria terminá-lo. Sem querer parecer saber do que você falava fiz mesmo ar de desentendimento. Você então me agradeceu pelos versos, mas me perguntou sobre quem eram as palavras. Respirei fundo pois sabia do que você falava, mas não queria lhe dizer a verdade. Você insistiu. Respondi, apenas, que eram sobre alguém muito especial. Você se calou. Você retirava a maquilagem de frente a um espelho e de costas para mim, mas me olhava de vez em quando pelo espelho. Havia anos que não nos víamos. Suspirou, e sem se virar disse que sabia que os versos eram seus. Sobre você. Para você. Eu, nada disse. Mergulhei em um pântano de ânsias e confusões mentais que me despertaram os mais distintos sentimentos. Uma lágriama rolou. Eu precisava dizer o que sentira, há quanto sentira, porque sentira, se ainda sentia. Pelo espelho você me viu enxugar os olhos e se virou.
Você se levantou, se virou e veio até mim e me abraçou. Se desculpou por não ter validado meus sentimentos. Disse que aqueles eram os versos mais lindos que já lera e que lhe tinham sido dedicados. Disse que não pudera imaginar antes, que eu te amasse daquele jeito. Se afastou de mim e com sua mão levantou meu queixo e me beijou os lábios. Seus lábios macios agora tocavam os meus. Um calor me subiu pelo peito. Nos beijamos por alguns minutos e eu não queria que aquilo acabasse. Você me abraçou novamente e eu te tive, finalmente, em meus braços. Me disse, então, com a sua voz mais suave que me ajudaria a terminá-lo. Que o faríamos em parceria.
Sentamo-nos em seu camarim. Você com seu violão, eu com meus papéis e caneta. Saímos dali horas depois apenas com uma canção escrita por inteiro. Saímos inteiros. Saímos completos. Saímos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

morango selvagem

à coisa mais delicada