28.11.05 - A Menina Adora...

Ela adora ver o céu azul com poucas nuvens. Ela adora os cheiros que aparecem a essa hora. Ela adora a sua rua com poucos carros passando. Ela ama o pôr-do-sol. Ela adora ver as primeiras estrelas que brilham no céu a essa hora. Ela adora a noite e ama observar as estrelas e esperar ver passar os satélites, em alta velocidade, que brilham junto às estrelas, noite afora. E ela olha e ela lembra...
Lembra de uma outra tarde, parecida com a de hoje, onde ela andava só pela avenida esperando que chegasse logo o feriado. Ela lembra de, passando pela avenida, sentir o cheiro dos morangos à venda, em minúsculas barracas próximas à pista dos carros, que se misturava ao cheiro terrível dos motores, mas que ainda assim trazia a ela uma bela imagem. Ela se lembra de, naquela tarde passada, olhar para o céu azul com poucas nuvens e imaginar momentos. Tendo comprado, em uma das barracas, os morangos que cheiravam tão bem, ela punha seu nariz dentro da sacola que os continha e os cheirava e olhava o céu, lindo e tão azul, e imaginava outros momentos. Deve-se dizer, à essa hora, que ela tinha planos para aquele feriado que vinha tão lentamente.
O feriado passado, os morangos estragados, os sonhos rasgados e uma semana depois, tudo estava acabado. Restava apenas a imaginação dos fatos, do que seria, do que poderia ter sido, do que não foi. Foi o fim.
A menina adora tardes lindas que lembram a ela momentos lindos que não aconteceram. Ela se afoga nas dolorosas lembranças do que não aconteceu apenas para ressurgir à margem dos novos dias. Apenas para imaginar novos fatos que não acontecerão.
Há tempos a menina não come morangos.
Comentários