9.4.07



Haviam-me, mais de uma vez, batido com um guarda-chuva e, me derrubado do lugar onde eu sentara, desta última. Um baque monumental inferido em minhas costelas – genial e gelado – me fazia, agora, contorcer de dor encolhida no banco. As lágrimas me desciam dos olhos com facilidade e ninguém – nem ela – parecera se preocupar instantaneamente.
Disse eu ‘mais uma vez’ por que me estavam sendo constantes os “ataques”. O primeiro foi logo abaixo do olho direito, há poucos meses, e me deixou sangue, susto, lágrimas e, por conseqüência, uma pequena cicatriz. Mas, não me foi feito nenhum pedido de desculpas. O segundo me atingiu a cabeça – e o peito logo após – e foi dado como amor à primeira vista. Este segundo acontecera três semanas após o primeiro. Nada de sangue, nada de lágrimas, apenas felicidade me trouxera este. O terceiro fora mútuo – nunca fui boa com coisas maiores que eu – pedidos de desculpa também mútuos e nada em mim prejudicado, nem nada que me estragasse a pele. Este havia acontecido há apenas um mês. O quarto golpe não era esperado, afinal dentro de um ônibus todos os guarda-chuvas estão contidos.
Eu a havia visto chegar quase que embrulhada nele de tão grande que era e se enrolara para fechá-lo e guardá-lo, e demorara a acomodar-se com ele. Eu ria por dentro - nesta época eu já não mais usava guarda-chuvas nem imaginava porque alguém ainda o fazia. Depois, levantou-se afobada, pois caíra no sono. O enorme guarda-chuva em sua mão direita. Girara o corpo com avidez e velocidade, para se dirigir à porta traseira, onde deveria saltar do ônibus. Na curva minha costela a atrapalhou.
Meu gemido contido não a deixou perceber o que ocorria enquanto corria e gritava para que o motorista parasse. Meu corpo enfim jogado ao chão e ninguém me socorrera antes, ninguém sabia o que me tinha derrubado. Ela não mais estava lá. Ouvi gritarem ao motorista que parasse o ônibus e meus olhos cerraram-se. A dor era mesmo das piores. E é tudo que me lembro sobre o que me trouxe a usar, hoje, este ridículo gesso ao redor do meu torso.

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