2005 - No Dia Do Casamento
Amanda chorara neste dia do mesmo modo que havia chorado em poucos outros dias de sua vida. Ela nunca fora de chorar por coisas pequenas ou motivos fúteis. Até este dia chorara apenas pelas pessoas em sua família que haviam morrido e por poucas outras coisas as quais ela havia considerado coisas pelas quais era importante chorar. E neste dia, ela chorara muito.
Um casamento acontecia nos jardins de sua casa. De bom grado ela havia oferecido sua casa e seus jardins para que sua melhor amiga se casasse e tinha ficado muito feliz, na época em que fora feita a oferta, mas neste dia - o dia do casamento - ela se encontrava em profundo desespero. Esta, antes citada, sua melhor amiga, era também o motivo de sua completa infelicidade. Essa amiga era a pessoa a quem Amanda amava e seu desespero era justo porquê neste dia, ela se casava.
A cerimônia corria sem nenhum problema. Jorge, o noivo, vestia um fraque negro que combinava perfeitamente com seus cabelos também negros, ambos impecáveis. Ela, Júlia, linda. Seu vestido branco deixava seus ombros expostos e cobria perfeitamente seus seios. Longo, não deixava seus pés à mostra e tinha uma cauda linda. Todo bordado e com renda, o vestido realçava as curvas de seu corpo. Seu cabelo estava preso pela grinalda e seu véu era curto, contrastando com o comprimento dos cabelos e do vestido. A visão era, para Amanda, maravilhosa, o que a fazia se desesperar mais e mais.
As alianças foram trocadas junto aos votos de amor eterno do casal e esse foi o momento em que Amanda se levantou da cadeira em que estava sentada, na última fileira, e se retirou dos jardins, entrando na casa. Usou a desculpa de ter que observar o trabalho dos garçons para ter entrado àquela hora, antes do fim da cerimônia. Pensando para si mesma ela agradeceu não ter aceitado ser a madrinha do casamento. Entrou em casa, trancou-se em seu quarto e saiu apenas horas depois do início da festa. Não observou buffet, não viu a primeira dança do casal, não ouviu os agradecimentos feitos à ela pela amiga e seu marido e não ouviu nenhum dos brindes ao casal. Quando no quarto Amanda deitou-se em sua cama, deixou que mais algumas lágrimas escorressem de seus olhos e deixou-se, então, levar pelo sono.
Ao acordar, horas depois de todas as cerimônias terem já terminado, ela se dirigiu à festa para ver o que acontecia ainda. Encontrou os noivos juntos, sentados, conversando em uma roda de amigos. Fitou-os por poucos segundos e dirigiu-se à cozinha para ver como andava os bastidores da festa. Não encontrando problemas em nenhum lugar sentou-se em uma cadeira. Respirou fundo. Seu rosto, já retocado, não mostrava mais a dor que ela sentira tão intensamente horas antes. Júlia não a viu quando ela havia ido à sala e ela não se preocupou em fazer-se ser vista.
A festa terminada. Ela estava ainda na cozinha observando, sem dar atenção aos garçons que entravam e saíam a todo instante. Júlia que não tivera antes tempo de falar com a amiga pela quantidade de convidados os quais teve de cumprimentar, agora, a procurava. Foi em seu quarto, bateu nas portas dos banheiros e saía já pela porta da cozinha quando ouviu a voz da amiga vinda de um canto remota da mesma:
"Ju, o que você está procurando?"
Sua voz melancólica fez com que o sorriso da amiga desaparecesse quase que instantaneamente de seu rosto enquanto dizia:
"Eu estava procurando você, meu amor. Como você está?"
Amanda sentiu seus olhos encherem-se de lágrimas ao ouvir a suave voz de Júlia. Não respondeu e nem precisava. Era notável a sua tristeza e Júlia nem sabia o que dizer. Havendo já soltado a porta de saída da cozinha se dirigia à amiga quando a viu girar-se e partir em direção à sala. Amanda não queria chorar e então fugiu de um contato, de um abraço. Júlia não quis detê-la, então voltou à saída da cozinha e dirigiu-se aos jardins. Amanda partiu novamente para seu quarto e trancou-se lá. Júlia sentou-se em um dos bancos do jardim e fitava a linda lua que aquela noite trazia quando ouviu a voz de Jorge chamá-la. Não respondeu. Ele se aproximou, sentou-se ao seu lado. Abraçou-a e beijou-a e ficaram ali, os dois, por alguns minutos.
Depois de um tempo ela lembrou-se das poucas pessoas que ainda estavam na casa e perguntou ao marido se ele gostaria de partir. Jorge concordando que aquela seria a melhor hora dirigiu-se a chamar o motorista - ou acordá-lo. O sorriso presente no rosto de Júlia desde a chegada do marido se dissipou assim que ela lembrou que esta seria a hora da despedida. Teria de falar com Amanda por força agora. Entrou, novamente pela porta da cozinha, e se dirigiu ao quarto de Amanda, pois imaginava que ela estaria lá.
Amanda estava sentada perto da janela e olhava a parte do jardim onde havia ocorrido a cerimônia de casamento. Júlia entrou no quarto sem bater e Amanda já adivinhava ser ela. Girou-se e fitou-a:
"Vocês já vão? Tem alguém ainda na casa?"
"Poucas pessoas, duas ou três apenas. Você não está bem, não é?"
Amanda não respondeu, pois novamente não precisava. Era visível a tristeza em seu olhar. Amanda se levantou então e dirigiu-se à amiga para abraçá-la e desejar-lhe felicidades. Desculpou-se por não ter estado presente na festa e dessa vez era Júlia quem chorava.
"A única pessoa que tem que pedir desculpas sou eu. Eu não imaginei que você sofria tanto. Eu nunca imaginei que você me amasse tanto assim. (...) A festa foi linda. Uma pena você não ter estado lá."
Amanda abraçou a amiga apaixonadamente, desejou-lhe sorte e toda a felicidade do mundo e chorou abraçada a ela. Minutos passados e muitas lágrimas depois se ouviu batidas à porta do quarto. Era Jorge que vinha buscar sua esposa. As duas abriram falsos sorrisos e convidaram-no a entrar. Ele avisou à Júlia que o carro estava pronto e que a casa já estava vazia. Abraçou Amanda e agradeceu-a por tudo. Amanda, abraçando-o desejou a ele também sorte e felicidade. Desceram, os três, à sala.
Os garçons arrumavam a casa, recolhendo copos, pratos e talheres largados pelas mesas e móveis, pelos convidados. Os três amigos dirigiram-se então ao carro que já estava parado na saída da casa. Antes que entrasse no carro Júlia abraçou, novamente, forte a amiga que pôs-se a chorar outra vez. Em seu ouvido Júlia disse à Amanda que fosse visitá-los em breve e disse desejar que ela não mais sofresse tanto. Amanda disse à Júlia então, que sentiria saudades. Dois beijos no rosto e as mãos soltaram-se lentamente. Júlia entrou no carro e Amanda abraçou Jorge novamente. O carro se foi e Amanda ficou ali parada até que as pessoas do buffet a chamaram para dizer que iam já embora.
Até ali Amanda havia sofrido, mas sentada em um banco do jardim e fitando a grande lua, como havia feito Júlia horas antes, decidiu mudar e parar de sofrer. Decidiu virar sua vida e procurar um amor onde poderia realmente encontrá-lo. Sua vida seguiu-se normalmente e ela visitava os amigos algumas vezes por ano. No início ainda foi difícil vê-los juntos, mas acostumou-se. Após tantas lágrimas corridas de seu rosto a menina não mais poderia pensar em chorar tanto em sua vida. Outras ocasiões eram certas que surgiriam, mas Amanda seguiu o desejo da amiga e fez de tudo para sofrer pouco, chorar pouco.
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