2006 - A nova história que está fraquíssima e sem título



Ela se encontrava sentada em sua casa, confortável no sofá. Não tinha mais perto de si o marido, que havia morrido em um acidente de avião anos atrás, e não havia mais perto de si o filho único, que havia decidido morar longe da cidade, sozinho, por não aguentar a pressão da morte do pai e de todas as coisas cobradas dele, pela sociedade. Mas, ela não se sentia exatamente sozinha. Senhora da classe alta, moradora do Jardim Botânico, cobertura de um pequeno grande prédio por lá. O apartamento era gigantesco e abrigava além dela sua vasta coleção de raras plantas e seu cachorro, que fora dos padrões do normal das mulheres de sua classe, era um vira-lata que ela havia encontrado na rua, um dia antes da morte do marido. Ela o havia levado pra casa cuidado dele como se cuida de um filho. As plantas e o animal a faziam companhia. Seu telefone quase nunca tocava, mas ela se sentia bem assim. A Tv era sua outra companheira.
O tocar repentino do telefone enquanto ela se ajeitava, mais uma vez, no sofá, enquanto via Tv, a assustou. Ela levantou rápido correu a ele. Do outro lado da linha uma voz frágil falava em longos soluços qualquer coisa que ela não entendia e ela pedia calma repetidas vezes. Aos poucos ela entendeu o que era e já sabendo que era seu filho quem falava do outro lado da linha encheu seus pulmões e gritou. Sua ordem foi atendida prontamente e ela então avisou ao filho que iria imediatamente até ele. A voz do outro lado sossegou, soluçando ainda, mas sossegou. Ela lhe mandou um beijo e disse que o veria em breve. Desligou o telefone, respirou fundo, afastou-se do aparelho e dirigiu-se a seu quarto para tomar banho, trocar-se e dirigir-se a onde estava o filho.
Pronta ela pegou apenas sua bolsa, checou se tinha com ela seu celular, seu talão de cheques e seus cartões de crédito, deu um beijo em seu vira-lata, despediu-se de longe de suas flores e partiu. Trancou a porta, desceu as escadas, disse ao porteiro do prédio que voltaria tarde, mas ainda no mesmo dia.
Direcionou-se à rua e procurou, por trás de seus óculos escuros, por um táxi vazio. Fez sinal para vários que não pararam. Direcionou-se a outro ponto da rua e finalmente lhe parou um táxi vazio. Ao entrar ordenou logo ao motorista que partisse. Perguntada para onde ia ela hesitou um pouco e disse: Petrópolis. O homem assustado deu uma brusca freada e estacionou o carro. Perguntado se ele não iria até lá foi sua vez de hesitar um pouco, mas logo dizer a ela que o problema é que seria uma corrida um tanto cara. As hesitações então se acabaram. A Senhora disse que da última vez que havia feito o mesmo o taxista a havia 300 Reais. O homem bondoso então aceitou na hora. Ida e volta de Petrópolis por 300 reais. Ambos satisfeitos em seus cantos seguiu-se então a viagem, infinitamente calma.
Chegando lá o taxista deixou a Senhora bem em frente à casa de seu filho que lhe esperava, já, ansioso no portão. O rosto do menino era de completo desespero e a cara da mãe era de completa incredulidade. Ao abraçar o filho, perguntou-o qual era o problema e a resposta foi simples: "Há um cachorro vira-lata que não quer sair do meu quintal! Mãe, eu estou desesperado."
Era certo que o menino não buscava mais que a atenção da mãe que não conseguia entender como seu filho havia se tornado aquela criatura tão medrosa e problemática. Os dois não se entendiam e não foi por falta de tentativas! O menino havia pedido a mãe para morar sozinho, mesmo com todos os seus problemas, já que queria também que a mãe vivesse sua própria vida. A mãe achando lindo da parte do filho e sem se preocupar, naquela hora, com os problemas do jovem, deixou que as coisas acontecessem do jeito que ele quisesse. E deu-se a separação. E deu-se a dependência do menino na figura da mãe.
O animal, motivo do deslocamento da mãe da cidade do Rio de Janeiro à Cidade de Petrópolis, encontrava-se escondidinho morrendo de medo da criatura larga daquele menino e se tremia todo no canto ao lado da churraqueira que havia no quintal. A mãe ainda incrédula pensava em como se livrar da criatura sem tocá-la pra não traumatizar mais o filho.
Correu até onde estava o taxista e lhe fez um pedido: por mais 100 reais, que ele tirasse dali o cachorro e o levasse para bem longe. O taxista não entendeu muita coisa, nem como nem porque, mas resolveu aceitar o dinheiro da mulher e retirar, de onde quer que estivesse, o tal cachorro. Saiu do carro, dirigiu-se a casa e ao quintal situado logo atrás da mesma. Viu ao fundo, tremendo-se de medo, um cachorrinho. Pegou-o, enfiou-o na mala de seu carro e partiu dali com o cachorro. A mãe entrou na casa com o filho a seu lado, preparou-lhe um chá para que ele se acalmasse e sentou-se junto a ele à mesa da cozinha. Conversaram por pouco tempo, poruq o taxista voltara logo, sem o cachorro.
A Senhora se despediu do filho, já que agora tudo estava calmo e as coisas haviam retornado a seu estado normal. Não se ofereceu para ficar pois sabia que o filho não aprovaria a idéia. Saiu da casa, direcionou-se ao táxi e entrou. Sentada no táxi ela fitava o filho e o que ele havia se tornado. Ela não gostava do que via, mas ele parecia viver feliz daquele modo, junto às suas loucuras e suas neuroses e ela deixava que tudo continuasse assim. O táxi partiu, ela jougou-lhe um beijo, o menino sorriu e entrou na casa.
De volta à estrada que a havia levado ali ela olhava a paisagem e nem pensava em perguntar ao taxista o que ele havia feito com o animal. O taxista não falava nada, nem ela. A viagem foi das mais longas para quele homem que dirigia, mas a monotonia foi quebrada por um leve ganido que saíra, assim que o carro passara por um quebra-molas, do porta-malas do carro. Num susto a mulher olhou o taxista que a olhou de volta com uma cara de desespero. A mulher que não imaginara o que o taxista havia feito com o animalzinho percebia agora que ele não havia feito nada e ele contou a ela, logo depois, que havia ido comprar algo para o animal comer e voltado. A mulhger abriu um sorriso enorme e se desculpou com o homem dizendo que seu filho tinha trauma de animas. O homem não se importou com as desculpas. Ele entendia que cada pessoa tinha as suas manias e vontades e loucuras. Ele disse que ficaria com o cãozinho para ele. Ela agradeceu.
A viagem terminada, a senhora fora deixada no ponto exato onde havia pego o táxi mais cedo. Agardeceu o taxista e voltou à sua casa e ao convívio de seu cãozinho e de suas orquídeas. O taxista se dirigiu a pet shop mais próxima para saber o que fazer com aquele cachorrinho. O cachorrinho, no dia mais feliz de sua vida tomou banho, vacinas, remédios, ganhou duas lindas vasilhas novas, uma para a comida e uma para a água, uma coleira nova e uma guia. Feliz o taxista voltou para sua casa, com seu mais novo amigo.

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