2006 - Muito Com O Que Se Acostumar

Era um dia normal, corríamos pela rua. Fazíamos nosso jogging matutino diário. Eu corria à frente dele, no máximo uns dez metros à frente dele, e me esforçava ao máximo para continuar assim. Engraçado que eu sempre fui mais rápida ao correr do que ele. Ele tentava me alcançar, mas não conseguia, até a hora que tive que parar em um sinal para atravessar uma rua. Alcançando-me ali, finalmente, ele agarrou meu braço e pediu para que eu parasse, me desvencilhei de suas mãos e corri para o outro lado da rua, tendo resolvido não escutá-lo. Olhei para trás rápido enquanto corria e vi que ele permanecia lá, parado na beira da calçada. Continuei correndo e não dei importância, mas fui mais devagar, pois imaginei que ele ainda tentaria me alcançar. Com esta certeza em mente parei em outro sinal para esperar uma possibilidade de atravessar e foi quando ele me alcançou novamente. Sem me tocar ele pediu que eu parasse e que conversássemos.
Percebi que ele queria mesmo dar uma chance para uma conversa e parei. Caminhamos juntos de volta ao nosso apartamento e depois de tudo discutido, quando finalmente chegamos ao apartamento ele me perguntou o que seria de nós dali pra frente. Sem realmente encontrar palavras dóceis para dizer-lhe, pois eu pensava que ele houvesse entendido o que eu estava falando, eu disse que não existíamos mais, não eu e ele como um casal, apenas eu de um lado e ele de outro. Foi terrível vê-lo finalmente entender o que estava acontecendo aquela manhã, mas incrivelmente libertador também.
Continuando nossas manhãs separadas como fazíamos já há um tempo. Seguimos nossos diferentes caminhos daquele apartamento e de nossas vidas. Não o vi ao voltar para casa aquela noite e nem no dia seguinte enquanto eu fazia minha mudança. Não ouvi mais nenhuma palavra dele e não sei onde ele estava aquele dia ou o outro. Não recebi ligações dele, nunca mais ouvi sua voz e nem senti seu cheiro, nunca mais li seus recados na mesa de centro da sala e nem nunca mais recebi seus abraços no meio da noite enquanto trabalhava até tarde. Nunca mais senti o cheiro de seu café e nem do macarrão que só ele sabia fazer. E como me dá saudades.
Deixei-o pois queria continuar minha vida de um modo diferente. Não estava apaixonada por nenhuma outra pessoa, não ia viajar, não estava morrendo. Eu fui embora simplesmente porque não havia mais ali uma relação apaixonada como era no começo. A cumplicidade fundamental do nosso relacionamento deu lugar, aos poucos, à rotina e ao silêncio, nos afastamos, até que um dia eu percebi que morava e dormia ao lado de um estranho. Foi uma decisão difícil deixá-lo, foi terrível ser tão grossa com ele para fazê-lo entender algo tão simples, mas se foi assim é porque era assim que tinha que ser.
Seguindo a minha vida fui morar sozinha em um apartamento não muito longe do dele. Um belo apartamento grande o suficiente para mim e a fase pós-relacionamento de sete anos que eu estava vivendo. Emprego fixo eu tinha, boa renda, carro, plano de saúde ¿ eu não precisava mais ser sustentada. Às vezes eu me sentia extremamente sozinha naquele apartamento e outras vezes eu me sentia inconfortável por ser tão grande em um lugar tão pequeno. Mas isso passou com o tempo. Acostumei-me.

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