É hexa!

Era carnaval nas ruas - ou era como. Havia balões sendo soltos no ar, papel picado, fitas e muita cor. Havia a multidão e, naquele momento, pronta pra desistir, recebi um telefonema que mudaria tudo o que eu pensava. Mal sei como ouvi tocar o celular, mal sei como consegui distinguir a sua voz. Um choque. O carnaval nas ruas, você em um lugar quase impossível de alcançar. Não sei porque, mas você me ligou. Talvez carência, talvez a inconstância, talvez a impossibilidade de alcançar a outros. Sua voz tão fraca que não pude rejeitar seu pedido. Não entendia o que acontecera a você, mas parti da festa ao seu encontro. Vinte minutos a pé pra sair da multidão e dar a volta em dois quarteirões a mais para chegar onde você estava. E aí, o desafio. No primeiro andar do prédio dei seu nome, a moça me olhou, dei minha identidade e disse que você me chamara. Ela ligou para o seu quarto. Cinco minutos de espera e ela deixou que eu subisse. Dez andares de escada. Na recepção bebi água e perguntei por você. Outra moça me olhou de cima a baixo. Não sei se era o suor, os confetes, a falta de ar ou os cabelos emaranhados da festa que a assustaram, mas ela deixou que eu entrasse. Você estava deitada na cama, virada de frente para a janela. Sentei ao seu lado e te olhei com olhos já cheios de lágrimas. Os tubos ligados ao seu braço eram assustadores. As cores, as combinações, as máquinas. Beijei a palma de sua mão e fechei-a junto a minha. Você sorriu e me explicou que tivera uma recaída de algo que eu nem sabia ter nunca existido, mas que tudo estava, já, bem. Abriu um sorriso e perguntou como eu estava e onde. Explicado tudo, o carnaval, agora, passava em frente a sua janela. O seu sorriso junto aos balões, papéis picados e fitas de muitas cores era, simplesmente, maravilhoso.

Comentários

gostei.
tem um 'quê' de caio fernando abreu...
você pensa que a história caminha pra um lado, mas ele segue outro.

bonito.

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